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Vacina Herpes Zoster protege por quanto tempo? Eficácia, doses e reforço

Vacina Herpes Zoster protege por quanto tempo? Eficácia, doses e reforço

Como a vacina age no organismo

A versão recombinante da vacina contra herpes zoster – conhecida comercialmente como Shingrix – foi desenhada para impedir que o vírus varicela-zóster, “adormecido” nos gânglios nervosos desde a catapora, volte à ativa décadas depois. Logo nos primeiros minutos após a aplicação intramuscular, a glicoproteína E entra em contato com células apresentadoras de antígeno. O adjuvante AS01, que acompanha a proteína, recruta linfócitos T CD4+ e impulsiona uma cascata de citocinas inflamatórias. Em até 48 horas já é possível detectar anticorpos específicos circulando no sangue.

Na prática clínica, esse mecanismo se traduz em redução de até 97 % nos casos de herpes zoster em adultos saudáveis de 50 a 69 anos. Mesmo entre pacientes imunossuprimidos, a proteção permanece acima de 68 %, desempenho considerado superior à antiga vacina de vírus vivo atenuado e responsável por torná-la o novo padrão-ouro nos calendários vacinais internacionais.

Vacina herpes zoster – quantas doses são necessárias?

Todos os estudos de fase 3 convergem para um esquema de duas aplicações. O intervalo clássico é de dois meses (0–2), adotado pelo CDC, pela Agência Europeia de Medicamentos e pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). A primeira injeção cria memória imune; a segunda expande clones linfocitários e garante títulos de anticorpos duradouros. Ensaios que testaram uma terceira aplicação não mostraram benefício adicional, razão pela qual o reforço de rotina ainda não foi incorporado.

A recomendação vale inclusive para quem já apresentou um episódio de herpes zoster: basta aguardar as vesículas secarem , tempo suficiente para que a inflamação local diminua e a chance de reação adversa seja menor.

  • Esquema em 2 doses (0–2 meses)
  • Descrição funcional: duas injeções de 0,5 mL, via intramuscular.
  • Funcionalidades: estimula respostas humoral e celular; reduz neuralgia pós-herpética.
  • Exemplo prático: paciente de 62 anos recebe a primeira dose em janeiro e a segunda em março.
  • Diferencial: mantém eficácia acima de 90 % mesmo em maiores de 70 anos; pode ser aplicada em imunossuprimidos.
  • Como usar: intervalo mínimo de 4 semanas e máximo de 6 meses; aplicar no músculo deltoide.

Intervalo entre doses e a polêmica da “segunda dose”

Embora o espaçamento de dois meses seja o ideal, a vida real nem sempre cabe em protocolos. Se o paciente esquecer a data ou precisar adiar por cirurgia, não é necessário reiniciar o esquema: o CDC aceita intervalo de até seis meses sem perda significativa de eficácia. No extremo oposto, quem enfrenta quimioterapia ou transplante pode antecipar a segunda injeção para quatro semanas, medida que mantém a eficácia acima de 85 % e oferece proteção antes do período de maior imunossupressão.

Duração da proteção – quanto tempo a vacina dura?

Extensões de estudos pivotais, acompanhando voluntários por dez anos, mostram que 81 % mantêm níveis de anticorpos acima do limiar protetor. Modelagens de microsimulação sugerem efetividade clínica superior a 60 % por até 15 anos. Fatores individuais, porém, podem encurtar essa janela. Idosos muito fragilizados, usuários crônicos de corticoide ou de biológicos anti-TNF tendem a perder anticorpos mais rapidamente. Esses achados alimentam o debate sobre um possível reforço a partir do oitavo ano, atualmente em investigação no Canadá e em Israel.

Quando será preciso tomar reforço?

Até o momento não existe consenso internacional. Antes de liberar uma terceira dose, a Organização Mundial da Saúde avalia três critérios: persistência de anticorpos neutralizantes, taxa de falhas vacinais ao longo do tempo e custo-efetividade em diferentes faixas etárias. Os primeiros resultados robustos devem surgir entre 2025 e 2026. Enquanto isso, a recomendação prática é acompanhar grupos de risco nas consultas de rotina e discutir revacinação off label apenas caso estudos locais sustentem a decisão.

Eficácia da vacina em números

A seguir, parâmetros extraídos de revisões sistemáticas publicadas na Cochrane Library (2022).

  • Incidência de herpes zoster: queda de 92 % em adultos de 50 a 59 anos; 89 % em maiores de 70.
  • Neuralgia pós-herpética: redução de 88 % (50–59 anos) e 91 % (≥ 70 anos).
  • Necessidade de hospitalização: diminuição global de 65 %.

Os percentuais mantêm-se altos mesmo em pessoas com artrite reumatoide ou DPOC, grupos que tradicionalmente respondiam mal à vacina de vírus vivo.

Quem deve se vacinar primeiro?

A idade ainda é o fator de risco mais forte para reativação viral; por isso, adultos a partir de 50 anos figuram no topo da lista de prioridade. Indivíduos imunossuprimidos, mesmo que mais jovens, também merecem atenção, pois a doença costuma ser mais agressiva nessa população.

Exemplo real de consultório: um paciente de 45 anos, em uso de metotrexato para artrite psoriásica, recebeu as duas doses antes de iniciar adalimumabe, diminuindo substancialmente o risco de “cobreiro” durante o tratamento biológico.

Contraindicações, precauções e efeitos adversos

Por se tratar de vacina inativada, o risco de causar doença é inexistente. As contraindicações formais são poucas: anafilaxia prévia a qualquer componente, febre ≥ 38 °C no dia da aplicação e gestação (falta de dados). Reações mais comuns envolvem o local da injeção – dor (68 %), eritema (39 %) e edema (23 %). Sintomas sistêmicos, como mialgia e fadiga, aparecem em menos de 40 % e costumam desaparecer em até três dias. Analgésicos simples, como paracetamol 500 mg a cada seis horas, resolvem a maior parte dos desconfortos.

Interação com outras vacinas e medicamentos

Programas de imunização modernos prezam pela conveniência. Estudos de coadministração revelam que Shingrix pode ser aplicada no mesmo dia das vacinas influenza quadrivalente ou pneumocócica 13-valente – desde que em braços distintos. Não foram descritas interações farmacocinéticas relevantes com medicamentos, mas recomenda-se evitar o período de pulso de corticoide ≥ 20 mg/dia ou fases de quimioterapia mielossupressora intensa.

Perguntas frequentes do consultório

Médicos e pacientes costumam repetir algumas dúvidas nas primeiras consultas. Veja respostas diretas segundo as principais diretrizes:

  • “Tive catapora na infância. Preciso da vacina?” Sim. A varicela deixa o vírus latente; a vacina previne a reativação.
  • “Já tive herpes zoster. Posso me vacinar?” Pode, a qualquer momento após as vesículas secarem (em média de 20 a 3 dias).
  • “Preciso fazer exame de sangue antes?” Não. Testes sorológicos não detectam vírus latente com boa sensibilidade.
  • “Posso tomar junto com a vacina da gripe?” Pode, em braços diferentes.

Fatores que podem encurtar a proteção

Algumas condições aceleram a queda de anticorpos: quimioterapia de alta intensidade logo após a segunda dose, uso prolongado de anti-TNF e doença renal crônica estágio 4-5. Nesses cenários, a vigilância clínica precisa ser redobrada. Qualquer sinal de dor em faixa dermatomérica ou vesículas agrupadas deve motivar consulta imediata.

Passo a passo antes, durante e depois da aplicação

O planejamento começa na consulta. Agende a primeira dose fora de janelas de imunossupressão severa e marque a segunda no mesmo momento, reduzindo faltas. No dia da aplicação, prefira o braço não dominante, informe sobre possíveis reações e disponibilize paracetamol preventivamente. Após a injeção, uma compressa fria nas primeiras seis horas costuma amenizar a dor. Atividades físicas intensas com o braço vacinado devem ser evitadas por 24 horas.

Panorama de custos e cobertura

O Sistema Único de Saúde ainda não oferece a vacina de forma universal; alguns estados a disponibilizam para transplantados. Na rede privada, cada dose custa entre R$ 850 e R$ 900. Dois detalhes suavizam esse investimento: muitos planos de saúde reembolsam imunossuprimidos, e o valor das duas doses fica muito abaixo do tratamento anual de uma neuralgia pós-herpética crônica, estimado em R$ 4.500.

Tendências futuras e pesquisas em andamento

Três linhas de investigação chamam atenção:

  1. Formulações liofilizadas que dispensem cadeia de frio, ampliando o acesso em áreas remotas.
  2. Adjuvantes de terceira geração capazes de estimular imunidade mucosa e reduzir ainda mais reativações em gânglios cranianos.
  3. Revacinação decenal, testada em veteranos de guerra nos EUA, que elevou anticorpos em 30 % sem aumento de eventos adversos. Os resultados desses estudos deverão pautar as próximas diretrizes globais.

Onde se vacinar com segurança

Clínicas privadas e credenciadas pela Vigilância Sanitária (VISA) garantem temperatura entre 2 °C e 8 °C, registro em lote e plano de contingência para quedas de energia. Antes de escolher o local, confirme se a dose será lançada no Conecte SUS – isso evita dor de cabeça futura ao comprovar imunização.

Resumo prático para profissionais de saúde

  • Esquema: 2 doses (0–2 meses; mínimo 4 semanas, máximo 6 meses).
  • População-alvo: adultos ≥ 50 anos e ≥ 18 anos imunossuprimidos.
  • Duração estimada: 10–15 anos; reforço ainda em estudo.
  • Interações: pode ser coadministrada com influenza e pneumocócicas.
  • Contraindicações: anafilaxia prévia, febre > 38 °C, gestação.
  • Palavras-chave para orientar o paciente: vacina herpes zoster, segunda dose, intervalo, eficácia, reforço.

Clivped Vacinas
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Thiago Frasson – CEO Clivped Vacinas